quarta-feira, 12 de março de 2008

Entre os próprios alunos do Colégio Arautos do Evangelho, a procura do simbolismo de cada coisa é uma novidade atraente e que tem mostrado seu sucesso. Explicaremos a seguir, através de um estudo baseado nas pesquisas da Prof. Esp. Ângela Tomé, o papel dos símbolos e seu significado.
O papel dos símbolos
“Não conhecemos a Deus diretamente, mas através das criaturas, segundo a relação de princípio e pelo modo da excelência e da negação.” (AQUINO, 2003, vol. I, p. 285).
Afirma São Tomás ainda: “é natural ao homem elevar-se ao inteligível pelo sensível, porque todo o nosso conhecimento se origina a partir dos sentidos.” (AQUINO, 2003, vol. I, p. 151)
Pela razão, isto é, pelo mero esforço de sua inteligência, considerando o universo, o homem pode concluir, em todo o rigor da lógica, a existência de um Deus pessoal e eterno, a espiritualidade da alma, o livro arbítrio e quantas outras verdades teológicas e filosóficas, tal como fizeram Platão e Aristóteles.
No entanto, o homem é constituído de corpo e de alma e não se sente plenamente satisfeito enquanto seus sentidos não puderem captar aquilo que seu espírito concebeu. Essa necessidade se torna ainda mais intensa e primordial quando se trata daquele que nos criou: mais do que tudo, temos desejo de ver a Deus com os olhos da carne, depois de o termos percebido através dos olhos da alma.
Acontece, porém, que Deus não pode se manifestar visivelmente ao homem, pois este se desconjuntaria inteiro diante de sua infinita e sobrenatural magnificência (AQUINO, 2003, vol.I, p. 261). Para remediar essa impossibilidade, o Senhor dispôs de modo santo e maravilhoso que nossos sentidos tivessem, de alguma forma, o conhecimento dEle. Essa percepção nos é dada através dos símbolos.
O símbolo ajuda a sensibilidade a se elevar às alturas onde o intelecto do homem foi conduzido pela razão, e, sobretudo, pela fé. O uso que o processo histórico do Ocidente fez dos símbolos
Nota-se, durante a Idade Média, um certo desdém pelo mero concreto e a concepção profunda de que, através de todas as coisas deste mundo, pode-se chegar ao espiritual e entrever a Deus. Conforme escreve Daniel-Rops (1993, p. 378) em sua obra “A Igreja das Catedrais e das Cruzadas”:
A ciência medieval surge-nos como algo tão desconcertante que normalmente nos faz sorrir. Para compreendê-la, talvez fosse preciso situarmo-nos no quadro psicológico, tão diferente do nosso, em que o sobrenatural surgia de toda a parte, em que o racional e a lógica não tinham invadido toda a consciência, e em que a fé fazia o homem viver no meio de uma “floresta de símbolos”, como diz o poeta.
Entretanto, a partir do século XIX, quando os últimos fulgores da Idade Média se apagaram, esta concepção de conhecimento mudou, sobretudo com o surgimento da filosofia positivista. Esta ensina que a mente humana não é capaz de conhecer, aprofundar e explicar senão os fatos que dizem respeito à matéria. “Para o positivista, objetivo é o fato, objetiva é a sensação, isto é, o a posteriori.” (REALE, 2006, p.23). Logo, tudo quanto não diga respeito à matéria é incerto, inseguro. Perguntam-se os positivistas: “existe uma alma? Não sei, não é matéria... Existe Deus? Não sei... não é matéria...” Costuma-se citar um famoso cirurgião do século XIX que dizia que a alma humana não existe, porque ela não pode ser encontrada na ponta de um bisturi. Ou, já em nossos dias, o astronauta Yuri Gagarin que, após sua primeira viagem espacial, declarou que Deus não existe, porque não o encontrou no espaço.
Apesar da negação do valor simbólico das coisas que a filosofia positivista apregoa, o processo que conduziu a humanidade ao estágio empobrecido dos dias atuais valeu-se largamente do símbolo em suas diversas etapas. E eles são muito numerosos e muito difundidos, por força da propaganda.Assim encontramos homens e mulheres que serviram de símbolo para a propagação de idéias, em determinados movimentos. Por exemplo, durante a Revolução Protestante, Lutero aparecia como o símbolo consumado das novas idéias.
No campo artístico quantos outros símbolos se impuseram, cada um representando uma etapa: a arquitetura e a escultura renascentistas, num evidente antropocentrismo; certos poemas modernistas que negam o valor da palavra no processo da comunicação, a arquitetura contemporânea civil ou religiosa que, negando os valores do espírito, se torna símbolo do pragmatismo da vida moderna.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Transcendência

É através das criaturas que chegamos ao conhecimento de Deus. Diz Salomão: “São insensatos por natureza todos os que desconheceram a Deus, e, através dos bens visíveis, não souberam conhecer Aquele que é, nem reconhecer o Artista, considerando suas obras” (Sb 13,1).

Os Arautos do Evangelho, inspirados por seu fundador, o Padre João Clá Dias, procuram em tudo reconhecer a presença de Deus. No Colégio Arautos do Evangelho Internacional Thabor, mesmo no ensino de Biologia os alunos passam por um “desafio” bimestral, onde procuram explicitar, através dos conhecimentos adquiridos, como todas as criaturas refletem um aspecto de Deus.

Reproduziremos abaixo uma parte do trabalho sobre símbolos e metáforas, de autoria da Professora Especialista Ângela Tomé, que estudou a fundo o papel desses dois elementos na formação dos Arautos do Evangelho.

Para a seguinte exposição, utilizou ela uma seleção de textos produzidos por alunos do Ensino Fundamental II e Ensino Médio do Colégio Arautos do Evangelho Internacional – Thabor.

Os textos reproduzidos abaixo são oriundos de aulas das disciplinas Biologia e Ciências, ministradas pelo Professor Vicente de Paula Nunes, nos anos de 2005 a 2007, e também da disciplina de Redação e Produção de Textos, ministrada pela referida professora, no mesmo colégio e no mesmo período.

O Professor Vicente estimula em suas aulas a que o aluno procure, além de apreender o conteúdo, captar seu significado simbólico. Ao explicar a matéria de Ciências ou Biologia, a par do conhecimento científico, vai levando o aluno a estabelecer relações simbólicas, com os conhecimentos da religião, do sobrenatural, criando uma verdadeira interdisciplinaridade entre sua matéria e outras, como por exemplo, Religião, Teologia, História Sagrada, Filosofia, História Geral, Língua Portuguesa e Literatura. Ao final do bimestre ele solicita aos alunos que redijam um texto explicitando o simbolismo da matéria estudada. Com isso os alunos são levados a refletir e a esforçar-se por exprimir-se com vocabulário correto, uma vez que querem comunicar suas impressões. Durante o bimestre seguinte, os estudantes já acompanham as aulas tendo como fundo de quadro o simbolismo do que estudam. O resultado, segundo o professor, e segundo seus colegas que ministram aulas para as mesmas turmas, é o melhor possível. Há muito interesse e curiosidade, elementos indispensáveis para o conhecimento e assimilação de qualquer conteúdo. Todos os trabalhos são corrigidos, comentados com a classe e arquivados bimestralmente. Constituem um interessante acervo, utilíssimo para pesquisas, como o foi o caso deste trabalho.

Os trabalhos colocados à disposição para pesquisa causaram até um certo embaraço de escolha, por serem tão variados e substanciosos. Nota-se neles, a par de problemas lingüísticos comuns em estudantes da faixa etária, ortográficos, gramaticais, etc, (os únicos que foram corrigidos dos originais para maior clareza de leitura), muita coerência e simplicidade. Verificou-se também que não refletem problemas do gênero “não sei como começar”, ou “não sei como acabar”. Os alunos escrevem em sala de aula, inteiramente à vontade, visto que sabem que não serão avaliados pela forma – e, a bem da verdade, nem pelo conteúdo – pois não se trata de uma avaliação, mas de uma atividade intelectual e espiritual deleitável, que tem como objetivo fazer com que todos compartilhem as graças que receberam durante o estudo. Há trabalhos de diversos tamanhos: alguns usam cinco linhas, outros trinta, dependendo da disposição interior que tenham no momento.

Abelhas

Fiquei impressionado por saber como as abelhas protegem a colméia. Elas dão a vida para proteger sua casa. Isso é símbolo de Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo deu Sua vida por nós, para nos salvar e nos proteger.

Mas as abelhas, além de guerreiras, são belas e ferozes. Assim devemos ser nós: belos de alma e ter ódio ao pecado. Nossa Senhora quer o bem estar do mundo. As abelhas querem o bem da colméia, que é a sua vida.

As abelhas vão de flor em flor para pegar pólen e formar mel. E o apostolado dos Arautos começou assim: foi de lugar em lugar para buscar santos católicos e foi se formando esta grande associação que hoje nós estamos freqüentando, os Arautos, com seu presidente geral o Pe. João Clá Dias, devoto de Maria.

(6a. série, 2006)

Os átomos

Podemos aplicar aos átomos a parábola de Nosso Senhor Jesus Cristo que diz: “A quem muito tem, mais será dado, e a quem tem pouco mais lhe será tirado.” Assim acontece com os átomos. Por exemplo, um átomo que tem seis elétrons tem a tendência de ganhar mais dois; e um átomo que tem três elétrons tem a tendência de perder os três.”

( 8a. série, 2006)

Diversos

“Uma coisa que me impressionou foi que a Santa Igreja Católica Apostólica Romana, como ela é una e verdadeira, só nela é que Deus reina, e os materialistas estão sempre na dúvida. Um exemplo: os pulsares. São essas explosões que não se tem certeza do que acontecem. Sempre se diz: Talvez... não se sabe... A Igreja é sempre eterna e verdadeira. Deus, quando criou o mundo não disse: “Talvez faça-se a luz”, mas disse: “Fiat lux!” faça-se a luz.

Outra coisa é a tabela periódica, a numeração de todas as substâncias que têm os seus nomes, seus números, etc., o que simboliza é a sabedoria de Deus, que chama cada estrela pelo seu nome, Deus sabe o número das areias do mar, etc.

Outra coisa é a relação de um átomo com o outro, formando substâncias compostas. Assim também acontece conosco: sem o batismo somos apenas criaturas, mas com a graça participamos da vida incriada de Deus.”

(8a. Série, 2006)

Características dos corpos

Impenetrabilidade: dois corpos não podem ocupar ao mesmo tempo o mesmo lugar.

Simbolismo: Essa característica representa perfeitamente o que diz Nosso Senhor Jesus Cristo: “Não podeis servir a Deus e ao dinheiro”.

Tenacidade: é a resistência que o material apresenta à quebra, quando submetido a um impacto.

Simbolismo: Uma alma iluminada pela graça, quando é submetida a uma provação, tentação ou choque com o mal, resiste fielmente a esse impacto. Pelo contrário, alguém outrora bom, mas que se deixou penetrar pelo mal, quando é submetido a um choque, quebra-se e é arrastado pelo desânimo.

Transparência: material transparente; translúcido, opaco.

Simbolismo: uma alma “transparente” é aquela que se deixa iluminar pelo “flash” e transmite essa graça aos outros. Uma alma “translúcida” é aquela que corresponde em parte à graça. Uma alma “opaca” é aquela que resiste e não se deixa levar pelas graças.”

(8a. série, 2006)

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

O Criador Universal, Deus, pôs no mundo, entre outras coisas, necessidades vegetais que mostrassem aos homens exemplos claros da paternidade de Deus.
As plantas com pigmentos verdes necessitam fazer a fotossíntese a fim de fabricarem seu próprio alimento para sobreviverem.
Também nós somos miseráveis. (...) No entanto, Deus Filho se encarnou, morreu na Cruz para nos salvar. Isso é que é PATERNIDADE. E Ele assemelha-se ao sol, pois as plantas precisam de sol para operar a fotossíntese, e nós de Deus para deixarmos de ser pífios, sem entusiasmo, etc.
Peçamos uma vez mais a Nosso Senhor, que é o Pai dos pais, que nos una em uma “Fotossíntese da vida sobrenatural” a Ele e a Nossa Senhora.
(1º ano Ensino Médio, 2006)
Já no final do desse ano, com toda a matéria de Biologia, podemos ver a perfeição com que Deus fez o nosso organismo.
Por exemplo: cada proteína tem uma forma enovelada diferente de todas as outras e essa forma dá à proteína uma função específica. Assim também somos nós. Deus dá uma vocação específica para cada um e, através desta, mostramos os aspectos diferentes de Deus.
Também quando a proteína perde sua forma, ela deixa de exercer sua função no organismo. Assim somos nós, que quando pecamos perdemos o estado de Graça e perdemos nossa forma, e deixamos de representar um aspecto de Deus.”
(1o. ano, Ensino Médio, 2006)
Tratando sobre as substâncias do corpo humano, foi dito que a água tem várias funções no organismo.
É interessante notar que, de certo modo, a água representa muito a humildade de Deus.
Apesar de sua importância, nunca fizeram propaganda da água. Só se vê propaganda de refrigerantes, vinhos, bebidas de todo tipo, mas nunca da água.
Ela nos dá o exemplo perfeito da humildade, porque ela sempre faz o bem para o nosso organismo, ainda que não façam o proselitismo de seus benefícios.
Assim também devemos ser: fazendo o bem sem reciprocidade, simplesmente pelo próprio bem, e pelo Supremo Bem, que é Deus.” ( 1º ano, Ensino Médio, 2006)
Christianus alter Christus: O Cristão é um outro Cristo.
Se fôssemos estudar, ou melhor, tirar todos os lados simbólicos da natureza, da física, da química, da biologia, creio que passaríamos anos e anos escrevendo, descrevendo, vendo, pensando, meditando nesses pontos. No ano passado, vimos um tanto esse assunto de átomos, moléculas, células, etc, e já pudemos tirar muitíssimas conclusões.
Entretanto, veio-me uma idéia que não ocorrera no ano passado.
A célula se divide formando outras células, idênticas à primeira, ou seja, é uma reprodução em relação àquela “princeps”.
Olhando a célula reproduzida, não notamos praticamente diferenças entre as duas. Se notamos, são diferenças pequenas; porém, notamos mais as semelhanças do que as diferenças.
“Chrstianus alter Christus.” O cristão é um outro Cristo. Aqui notamos as analogias, pois a partir de uma célula, de um núcleo, acabam-se formando outras partes, outras células. Da mesma maneira com um fundador que, de um modo ou outro, acaba tendo discípulos, que são exatamente a imagem humana do fundador. Tanto que mesmo passados 1.500 anos, podemos encontrar num beneditino a imagem de São Bento. De maneira infinitamente maior acaba acontecendo com o arquifundador que é Nosso Senhor Jesus Cristo, fundador da Igreja, do qual todo cristão deve ser imagem. (3º ano, Ensino Médio, 2006)
Estudando esta matéria, percebemos a perfeição de Deus em criar as coisas tão minúsculas, com tanta perfeição e com tantos simbolismos.
Todo o assunto da divisão celular é tão perfeito que negar a Deus é propriamente uma questão de deficiência mental.
Dentro do assunto das células, é interessante observar dois pontos muito simbólicos: 1. O gene: dentro do cromossoma há pedacinhos que dão as características físicas das pessoas. Isso é análogo à alma que é refletida em cada pequeno aspecto da pessoa, seja no modo de falar, no modo de gesticular, etc.
2. A mitose: uma função perfeita que Deus colocou no corpo é a da reprodução das células por meio da mitose. Imagine se ao fazermos um corte, ele ficasse sem cicatrizar. Seria uma aberração. Mas Deus fez este processo de divisão celular, entre outras coisas, para sinalizar que quando temos a desgraça de pecar, devemos procurar reconstituir as virtudes que perdemos com este corte na alma, através da confissão, que Deus instituiu para nossa salvação e para a “reconstituição” de nossa alma. (3o. ano, Ensino Médio, 2006)
Os trabalhos seguintes foram executados por alunos de Produção de Texto e Redação. São trabalhos que refletem mais preocupação formal, pois foram objeto de avaliação. Não foram tão espontâneos como os anteriores, embora tenham sido redigidos durante a aula, pois o tema foi dado de antemão, de modo que os alunos pudessem pesquisar e refletir sobre o que escrever. Nota-se neles muita maturidade de reflexão, formação doutrinária incomum para a idade, desejo de fazer apostolado com quem os lê. Como os anteriores, neles se encontram muitos problemas lingüísticos.
Nos dias de hoje, se alguém nos perguntasse a utilidade de uma porta, muitos achariam estranha a pergunta e dariam uma resposta vaga, sem nenhuma ênfase na beleza que ela pode representar. Mas ela não é só um enfeite, um pedaço de madeira que impede a passagem de um lugar para outro.
Atrás de toda porta fechada há uma certa dúvida, um ar de mistério, de suspense e de curiosidade sobre o que pode estar do outro lado. Dir-se-ia que separa um mundo do outro. A porta de um confessionário, por exemplo.
De um lado, um mundo de pecados, de paixões desordenadas, de iniqüidades, de vidinha, onde o rei é o príncipe das trevas; do outro, um mundo de arrependimento, de amor a Nosso Senhor Jesus Cristo, de desejo de ir para o Céu, de humildade, onde a Rainha do Céu e da Terra, dos Anjos e dos Homens, reina com suma misericórdia.
A porta nos faz lembrar das virtudes da confiança e da esperança, pois mesmo estando fechada, é só virarmos a maçaneta que chegaremos ao outro lado.
Assim também é o Reino dos Céus. Quando cometemos um pecado mortal a porta nos é fechada, mas é só nos confessarmos que a porta nos é aberta novamente. (8a. série, 2005)
Pode-se dizer dos textos acima que as metáforas, neles, constituem como que um fundo musical que acompanha a progressão dos conhecimentos adquiridos. Usando uma metáfora para defini-las, elas são como a pele que reveste a carne humana, e a carne que reveste os ossos. Nota-se nos textos uma certa reação ao teorismo que, a partir do século XIX, dominou o processo ensino-aprendizagem. A procura de aspectos simbólicos do conhecimento, como algo que satisfaz o sensível, torna clara esta reação à estrutura criteriológica positivista e racionalista anterior.
Por outro lado vê-se que a chamada “civilização da imagem” (imagem aqui no sentido corrente da expressão) chegou a um tal desvario que o homem como que diz: “basta!” E como solução sai à procura do simbólico, sobretudo como suporte do belo. Na introdução ao estudo do Cardeal Joseph Ratzinger (2006) sobre a beleza, encontramos esta esclarecedora e verdadeira afirmação: “Beleza é a palavra que revela a inevitável nostalgia do homem pela verdade, pela justiça e pelo bem, quer dizer, a nostalgia de Deus.” E já no corpo de sua exposição diz:
De todo o acima exposto podemos concluir que a linguagem simbólica se constitui numa excelente ferramenta de ensino. O gosto pelo maravilhoso unido à necessidade do contacto com o concreto para compreender as abstrações, parece-nos ser a fórmula adequada para sermos bem-sucedidos na formação das gerações jovens, pois o espírito humano não foi feito para conhecer a verdade pelo mero raciocínio. O raciocínio lhe é indispensável, mas Deus não fez da Criação uma universidade. Ele fez universidades para conhecermos a Criação.
O aprendizado científico faz parte básica, essencial, preciosa, sagrada da mentalidade humana, assim como o aprender através das “leçons de choses”. Mas há todo o mundo dos símbolos, do senso, que completa isso. E na mente humana há uma harmonia entre as coisas, e esta leva o homem a compor seu panorama com todos esses elementos. É o que faz a Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana, fundamentalmente docente, explicante. Ela desenvolve a teologia, é raciocinante. Mas para chamar a si o homem inteiro, Ela se enche de adornos simbólicos. As colunas, os capitéis, as abóbadas, os vitrais, tudo o mais, tem uma função didática. Para que tudo isto existiria, se o homem, simplesmente estudando a Suma Teológica, pudesse conhecer muito mais? A Santa Igreja quer somar as duas coisas. Um fiel que estude o catecismo, ou, se tem mais nível cultural, que estude a Suma Teológica, forma seus princípios. Mas a Igreja entra com uma ação formativa através dos símbolos, e vai acompanhando a grei católica à medida que esta vai se desenvolvendo.
Além disso, a Igreja tem seus santos canonizados. A santidade heróica, porém, é uma crista de montanha. Como toda montanha, esta tem suas encostas. E há uma variedade de personagens mais ou menos eminentes, bons, probos, cujo exemplo nós devemos seguir, não só porque aconselham bem, mas porque eles são símbolos vivos do que eles fazem, do que pregam, do que ensinam.
Assim, uma vez aprofundada filosófica e teologicamente a noção de símbolo, fica aberto um mar de visões simbólicas das coisas, que entretêm e santificam o homem, e que formam um ponto de partida de uma escola literária e artística inteiramente nova.
No entanto, deve-se ressaltar que o que conduzirá a humanidade a um conhecimento simbólico correto, equilibrado, restaurador é propriamente a inocência, pois “quem tiver maior caridade verá a Deus mais perfeitamente e será mais feliz” (AQUINO, 2002, vol.I, p.261). E aqui está a esperança para o futuro. Uma humanidade altamente filosófica e teológica, de cultura altamente filosófica e teológica muito disseminada por causa de um certo aguçamento do senso simbólico, tem que ser uma característica essencial da era que São Luís Maria Grignon de Montfort denominou “Reino de Maria”.